quarta-feira, 27 de abril de 2011

UM IDEAL PARA HOJE!


      Quando olhamos para trás, vemos o quanto é verdade que a humanidade é extraordinariamente capaz de se reinventar e que esta estória de que “antigamente é que era bom” é, no mínimo, uma percepção equivocada de quem está vendo o seu tempo passar, inexorável, em direção a outro que, embora possa ter muito do passado e do presente, será totalmente novo.
     Assim, cabe-nos saber colher o rumo da história, os sinais dos tempos e aprendermos a ver que é impossível que hoje seja pior do que ontem porque o tempo para se viver é hoje e este é o melhor de todos, isto é, o nosso tempo, o tempo que não será vivido por ninguém mais a não ser por nós mesmos.
     De certo modo, quando se diz que estamos vivendo o fim da história, ou, que estamos nos estertore da espécie humana e que estamos indo em direção à barbárie, que chegamos ao fim da idéia de futuro, estamos, na verdade, sob a influência de uma forma de pensar que predomina no Ocidente desde o início da Idade Moderna e que se considera absoluta e definitiva.
    Não se esperava que para além das conquistas modernas fosse possível o retorno de velhas perguntas e o aparecimento de novas demandas humanas, para as quais as luzes da modernidade não tivessem respostas.
    Esplêndido! Basta que o homem que nasce com a modernidade acolha a idéia verdadeira de não ser Deus. - Poxa, diante de tantas conquistas que nos trouxe O Iluminismo e a Ciência, nem é tão grave assim. Só não conseguimos ser Deus e nem matá-LO como previram tantos, como também não fomos capazes de nos apoderarmos da árvore do conhecimento. Um pouco de humildade, talvez nos esteja faltando e nos fizesse bem.
     Um Novo Humanismo não se dará sem uma recolocação dessas realidades em seus devidos lugares.
     Religião e Ciência, Deus e o Homem, não são excludentes, mas, alto lá, também não permitem sínteses ideológicas porque os resultados destas aproximações sempre foram catastróficos para a História da Humanidade.
     Estas duas coisas, Ciência e Religião, pertencem como nos lembra Stanley Gould, a Magistérios não Intervenientes e devem se respeitar reciprocamente. As sínteses verdadeiras serão, sempre, resultado da vida, de experiências antropológicas, portanto, humanamente individuais e coletivas. Jamais ideológicas e intelectuais.
     O homem do humanismo que resultará da atual experiência da humanidade talvez seja o Homem-Deus porque o Deus deste homem é o Deus da Imanência que se encontra no coração de cada um de nós humanos, independentemente das culturas e dos credos que, sem negar a dimensão transcendente do Deus, inaugurará também uma Nova Transcendência e uma Nova Escatologia que é aquela de uma Sociedade mais justa, fraterna e unida em torno de uma única lei que é aquela de nos reconhecermos todos como irmãos, feitos para a fraternidade que parece ser, cada vez mais, o único caminho capaz de superar a “auto-propulsiva e enlouquecida circulação do capital”, (assim Slavoj Zizek resume Marx) que, por ser uma experiência histórica chegará, também, a sua exaustão.
      - Uma sociedade fraterna, fundada na cultura da partilha. Este é um Ideal pelo qual vale a pena viver hoje

7 comentários:

L.Moraes disse...

Sensacional. É um prazer enorme poder seguir seu blog. Sou grande admirador do seu trabalho, sou amigo de sua linda filha Carol, e com ela pude conhecer um pouco dele. E não posso deixar de dizer o quanto a canção "Poros" é algo de tamanha importância na minha vida real, poética, com efeito, queria dizer que ela faz parte da minha vida junto com todas as canções de meus ídolos, você falou aquilo que um dia nos possamos ter pensando, mas nunca conseguimos colocar em palavras. Parabéns, sou um grande fã. Luiz.

jamil damous disse...

Emanuel, você é uma dessas raríssimas pessoas que me fazem ver o Cristianismo com respeito e admiração. Como disse alguém de que não lembro agora, "não acredito em Deus, mas tenho amigos que acreditam. E eu acredito nos meus amigos!"

Apolonio Carvalho Nascimento disse...

Manu, posso até dizer que não entendi nada,...mas os teus "Dizeres" me convencem e acredito em você. Por esta razão sou teu seguidor neste blog. Seja na "Porta da nossa casa" ou lá na "Toca na Doca", essa tua "Conversa de Malandro" nos diz muito de humanismo e de fraternidade.
Um "Rei Negado" que se fez luz e iluminou as trevas desde o "Exílio", levando-nos contra a correnteza por todo o mundo sem nunca deixar de ser "O Rio de nossa Cidade". Não sei se você me entende... Abração do teu mano e fã, Apolonio

Elsi disse...

Olá Manu! Gostei muito do artigo "um ideal para hoje". Fico feliz de encontrar um espaço inteligente para discutir e "saborear" a cultura.
Abraços! Elsi

jbibas disse...

Emanuel, acabaste por provocar em mim um sentimento que não faz parte do meu repertório de pequenos pecados: a ponta de inveja. Depois de ler o e-mail que anunciava teu blog, onde dizias ao final que és "ruim nesse negócio de internet", pensei cá com meus botões: quanto a isso empatamos, porém (sempre há um, não é mesmo?), no negócio de ser "blogueiro", vou ficar pra trás e curtir minha "ponta de inveja" misturada com a grande expectativa em seguir tuas próximas postagens.

Evoé Bardo!

Anônimo disse...

Meu amigo Emanuel,

Fico mais aliviado ao encontrar na internet um canto de repouso intelectual. Sim, repouso. Um canto que não se propõe a discussão mas ao diálogo. Um canto onde não há gritos, mas sussurros, daqueles que ao invés de nos fazer dormir, nos deixam mais alertas ainda para poder compreender tamanha sabedoria.

Parabéns, meu amigo, continue sua jornada. Estou lhe acompanhando.

Abraços,
Marcelo Magalhães.

José Mattos disse...

Ao que aludes em tuas linhas, um beijo, um poema, a vontade de falar a respeito e respeitar. Mais que o fragor das novas redes, esse jeito de acordar manifestos dentro da gente é o que, tenho certeza, esperam tantos e tantas no maremoto por vezes estéril da internet.
Seguir-te não é obrigado, mas obrigação.
Conta comigo para fazer-lhe eco ou silêncio, como aqueles, que aprendi contigo.

J.Mattos