RAZÃO DA DOUTORA TEREZA.
I
Duas passagens do “Livro da
Vida” de Tereza de Ávila me dão de pensar freqüentemente: a primeira quando
fala da decisão de “tomar o hábito” e a segunda quando fala das “grandes
doenças”. Ambas me fazem pensar em nosso tempo e, sobretudo, na dificuldade que
temos de acolher a leitura e os estudos como indispensáveis para uma vida
condizente com os desafios da modernidade. Lembro que a Santa nasceu em 1515 e
que, em seu caso, aquilo que estava em jogo era o desejo de aplainar seu
caminho para a “santidade”. Dá-me de pensar, porém, porque alguns pensadores
contemporâneos já iniciaram a falar de “Santidade Civil” e, parece que o tema
da leitura, dos estudos, da importância da cultura para a construção de nossa
individuação e de uma coletividade embasada na identidade do sujeito volta com
vigor. Este, aliás, é um tema recorrente em toda a história do humanismo e que
está posto, portanto, desde a antiguidade. A importância da PALAVRA, afinal,
vem desde a antiguidade, quando da descoberta da escrita, passando pela Grécia,
Roma e se Revela em Plenitude, segundo o Cristianismo, quando da vinda de Jesus
e das primeiras Comunidades Cristãs, mas, se consolida como conquista
civilizatória quando da Revolução Renascentista e do Iluminismo.
II
Tereza de Ávila tinha a sua
frente o horizonte da santificação e dizia que às pessoas que não tem o talento
para discorrer com o entendimento, nem para se beneficiar com a imaginação, é
“possível chegar mais rápido à contemplação”, “se perseveram”, advertia, e
acrescentava dizendo, porém, que é “mais trabalhoso e penoso” porque a estes
“convém maior pureza de consciência do que as que podem trabalhar com o
entendimento”. – Pré anunciando o valor da razão e dando a esta status de
instrumento de aperfeiçoamento humano ela diz a propósito daqueles que podem
trabalhar com o entendimento: “Porque quem pensa no que é o mundo e no que deve
a Deus, e no muito que Ele sofreu e o pouco que lhe serve e o que Ele dá a quem
o ama, tira doutrina para defender-se dos pensamentos e das ocasiões de pecado
e perigos”. O entendimento é, assim, em Tereza, instrumento de afirmação da
busca do encontro com o eu mais profundo e não com o superego que se manifesta
na consciência humana. Ficará sempre para Tereza como ela diz: “vi por
experiência que é melhor – sendo virtuosos e de hábitos santos – não ter nenhum
estudo”, mas, é mais trabalhoso e penoso, (pobre Tereza, Santa e Doutora da
Igreja) mas preferia como disse, aliás, de letra própria, aos letrados mesmo
para confessar porque “sempre fui muito amiga das letras, ainda que grandes
danos me tenham causado confessores semiletrados. Porque não os tinha tão
letrados como gostaria”. Benza a Deus!
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