terça-feira, 20 de novembro de 2012


RAZÃO DA DOUTORA TEREZA.

I

Duas passagens do “Livro da Vida” de Tereza de Ávila me dão de pensar freqüentemente: a primeira quando fala da decisão de “tomar o hábito” e a segunda quando fala das “grandes doenças”. Ambas me fazem pensar em nosso tempo e, sobretudo, na dificuldade que temos de acolher a leitura e os estudos como indispensáveis para uma vida condizente com os desafios da modernidade. Lembro que a Santa nasceu em 1515 e que, em seu caso, aquilo que estava em jogo era o desejo de aplainar seu caminho para a “santidade”. Dá-me de pensar, porém, porque alguns pensadores contemporâneos já iniciaram a falar de “Santidade Civil” e, parece que o tema da leitura, dos estudos, da importância da cultura para a construção de nossa individuação e de uma coletividade embasada na identidade do sujeito volta com vigor. Este, aliás, é um tema recorrente em toda a história do humanismo e que está posto, portanto, desde a antiguidade. A importância da PALAVRA, afinal, vem desde a antiguidade, quando da descoberta da escrita, passando pela Grécia, Roma e se Revela em Plenitude, segundo o Cristianismo, quando da vinda de Jesus e das primeiras Comunidades Cristãs, mas, se consolida como conquista civilizatória quando da Revolução Renascentista e do Iluminismo.

II

Tereza de Ávila tinha a sua frente o horizonte da santificação e dizia que às pessoas que não tem o talento para discorrer com o entendimento, nem para se beneficiar com a imaginação, é “possível chegar mais rápido à contemplação”, “se perseveram”, advertia, e acrescentava dizendo, porém, que é “mais trabalhoso e penoso” porque a estes “convém maior pureza de consciência do que as que podem trabalhar com o entendimento”. – Pré anunciando o valor da razão e dando a esta status de instrumento de aperfeiçoamento humano ela diz a propósito daqueles que podem trabalhar com o entendimento: “Porque quem pensa no que é o mundo e no que deve a Deus, e no muito que Ele sofreu e o pouco que lhe serve e o que Ele dá a quem o ama, tira doutrina para defender-se dos pensamentos e das ocasiões de pecado e perigos”. O entendimento é, assim, em Tereza, instrumento de afirmação da busca do encontro com o eu mais profundo e não com o superego que se manifesta na consciência humana. Ficará sempre para Tereza como ela diz: “vi por experiência que é melhor – sendo virtuosos e de hábitos santos – não ter nenhum estudo”, mas, é mais trabalhoso e penoso, (pobre Tereza, Santa e Doutora da Igreja) mas preferia como disse, aliás, de letra própria, aos letrados mesmo para confessar porque “sempre fui muito amiga das letras, ainda que grandes danos me tenham causado confessores semiletrados. Porque não os tinha tão letrados como gostaria”. Benza a Deus! 

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